quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O banco



Então o banco me emprestou uma grana. E eu não tenho como pagar.
Perdeu, preibói.


_ah, mas tem os juros.


Sei. Pega eu.

domingo, 24 de julho de 2011

Relativismo



Repita um milhão de vezes uma verdade e ela se arrisca a se tornar uma mentira.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Caminhando



E vamos andando. Dizem que para aquelas bandas há quem se importe com logarítmos, versos brancos, derivadas, discos do Itamar Assumpção, tabelas periódicas, esculturas, mecânica, Fernando Pessoa, Gauss, Hollywood, seriados de TV e algoritmos.

Não boto muita fé, mas vamos indo. Vai que é verdade. Pior do que aqui não será, espero.

Vamos andando que a vida é curta e a morte é certa. Bom, não é mais tão certa assim, mas a gente usa o ditado assim mesmo, pra dizer que não há pressa mas também não há tempo a perder.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sem culpa



O que me deixa tranquilo é saber que a civilização não precisa da minha colaboração para continuar seu sagrado trabalho. E quando precisa sabe muito bem como consegui-la.




Cabe uma penteadeira



Minha vida é do tamanho da nossa cela.
Pra lá das grades vejo a rua
onde há pessoas com faixas
"Hooray for our side".

Não querem conquistar nossa opinão, óbvio.
Embora gritem e acenem para nós.

Se revezam muy disciplinadamente
Apesar da desigualdade de tempo disponível.
Não fosse pelos dizeres da faixas dir-se-ia
que são bons companheiros de trabalho.
Mas é isso o que são. Bons companheiros de Teatro.

O último grupo da tarde é o mais ridículo.
Uns sentam-se no meio-fio, calados. Outros agitam símbolos incompreensíveis. Divindades de países distantes. Capas de livros e vinis.

Cantam uma melodia que parece uma canção de ninar.

Em breve anoitece. E aí as serras cantam.

domingo, 5 de junho de 2011

Domingo de manhã



_Frio. Vamos ficar no sol.


Fomos subindo por uma montanha de quinquilharias no quintal até alcançarmos o telhado. Sentamos em uma espécie de parapeito e foi um milagre chegarmos lá sem derrubar as canecas de café. Ficamos em silêncio, ela se encostou no meu peito. Chorou um pouco e acabou dormindo. Via o bairro inteiro dali de cima e tive um profundo ódio da civilização. Tive ganas de arrombar a porta de cada uma daquelas casinhas e ameaçar de morte cada amaldiçoado cidadão que se atrevesse a uma vez mais colocar mágoa no coração daquela moça de cabelos vermelhos dormindo com a caneca ainda cheia nas mãos.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sai da frente



_Impossível, desse jeito.
_Dá licença!
_Por que, vai tentar?
_Já estava fazendo.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sem saco



_Mas você não acha?
_Não.
_Como é que pode?
_Não enche. Não acho.
_Mas
_Mas o caralho. O CARALHO.
_Mas não é possível.
_É possível. Quer saber? Vou explicar. Senta aí.

(...)

_Nossa. Acho que vou dormir.
_Não sabe brincar, não desce pro play.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pra comadre



Mostro esse link pras pessoas com alguma frequência. Dessa vez vai pra Srta. Fla, que anda ligada no 220. Acho que conheces esta guitarra, señorita.


The Commitments - Try a Little Tenderness por algizdk


domingo, 10 de abril de 2011

Minha graande boca



Em frente ao espelho, conferimos nossas melhores roupas.
_Você está bonito. Como estou?
_Linda. Impecável.
_De verdade?
_Melhor que isso só se fôssemos ricos.
_Grosso.


Eu gostaria de levar um choque elétrico cada vez que falasse o que penso. Talvez aprendesse alguma coisa.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Troca de guarda



O carcereiro da noite vem render o da tarde. Mas chegou um pouco mais cedo. Trouxe uma long neck.
_Eu estive pensando...
_Azar o seu.
E levou a long neck.

domingo, 13 de março de 2011

Autoridade



Uma vez eu dormi no sofá. Acordei no meio da madrugada e na TV uma atriz num filme contava um sonho: Que estava em um bote salva-vidas ultra lotado e que vários outros náufragos tentavam subir no bote, ameaçando afundá-lo. E os marinheiros cortavam suas mãos a golpes de machadinha.

terça-feira, 8 de março de 2011

Se ela pudesse ler, é o que eu lhe diria.



Se eu deixo você ir é porque eu sei que você volta
Se eu vejo você de manhã a noite demora
A tarde inteirinha seca o vaso e a flor
Só volta a se abrir com o seu sorriso molhado
Feito chuva no telhado
Durmo bem, eu como bem
Eu passo bem acompanhado
Só eu sei o quanto vale não seguir os seus passos
Pois eu sei de onde vem, pra onde vai e o que encontra na curva


Achei num mp3 da Maria Alcina, mas fiquei com preguiça de pesquisar autores, fontes, origens. Ora, (quase) ninguém lê este blog, danem-se os créditos.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A falta de assunto




Todo mundo que escreve um dia tem de lidar com a falta de assunto. Chegou minha vez. Lá vou:

Hoje tive um dia que me deixou com a cabeça vazia. Coisas ruins mas não tão ruins que pudessem me fazer chorar ou mesmo ficar de cara amarrada.

E se hoje me sentasse com um amigo ou uma amiga para tomar uma cerveja eu não teria nada a dizer. Porque o dia me deixou com a cabeça vazia.

Dizem que quando a gente tem uma fratura muito, muito feia, a gente nem sente mesmo a dor ali na hora. O corpo aciona algum tipo de defesa que bloqueia a dor.

Hoje minha cabeça fez algo assim.

E como este é um acontecimento raro, vale registrar.

Hoje, tudo o que eu queria era... Ora, nem sei.


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Alberto Caeiro e bandas cover



Tem as bandas cover. Que tocam músicas de outros grupos. Tem aquelas que escolhem só os hits mais óbvios de cada banda. Tem as que se orgulham de tocar só os "lado B".

As que tocam covers de uma única banda são meio bizarras. Sei lá o que dizer delas.

Nos cursinhos pré-vestibular também há coisas assim. Reli recentemente um poema do mestre Caeiro. Um típico "lado A". Toda vez que uma apostila vai falar dele, mostra ou aquele poema do Menino Jesus ou este:

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

O primeiro que chamar isso de materialismo leva um croque no cocoruto.



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Não ter o que fazer




Resolvi dar aulas para os "terceira idade", como voluntário, sábados de manhã. De informática. Aí apresentei o grande portal da internet, Mr. Google. Expliquei o que era, como funcionava. Perguntaram: "mas ele acha qualquer coisa?" Eu disse "qualquer coisa. Se não tá no google, é realmente difícil de achar".

Uma senhora resolveu digitar "qualquer coisa" e me veio com o seguinte link:


A conclusão dela: "Esse negócio de internet é coisa de quem não tem o que fazer".

Tem a ver.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mais do mesmo




Mais uma vez e de novo repetindo novamente uma vez mais.

Certamente neste exato ponto precisamente outra vez.

Com a força de toda a certeza do mundo. Mais uma vez.

De novo. Sempre. Para sempre.

Muy discretamente, puxo o tapete do futuro. Ele cai. Era pra ser mais uma vez.

Não foi. Mas que coisa, não?


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Soul



É a arte da precisão. Supera de longe o Chorinho e até o Fado. Tudo é ensaiado para parecer casual e é absolutamente preciso.

Parece muito com o Tango.


Série Embriaguez: Final - Transmissão ao vivo



Enfim, depois de tanta divagação fútil é chegada a hora de dar a palavra ao embriagado.

"Eu acho isso um caso vulgar de esquizofrenia. Só não falo '...e pronto' pra não me colocar no mesmo degrau lamacento dos pirotecnistas que acham que deselegância é justificável por... bom, deixa pra lá.

O que este senhor deveria fazer é comprar umas roupas mais alinhadas e sair em busca de diversão. Dentro de uma década ou duas será tarde demais."


E assim termina a série sobre a embriaguez. A pergunta "por que?" fica jogada numa caixinha junto com os cadernos de anotações e aquele guardanapo do primeiro capítulo.

Fazeroquê. É o que temos para hoje.








domingo, 6 de fevereiro de 2011

Série Embriaguez 4: Fuga




Tem também a teoria da fuga. É meio parecida com a teoria do 'porque eu gosto'. Um pouco melhor, porque aponta para algo fora do sujeito. Resta saber, portanto: fuga de quê?

Há muitas coisas das quais se pode fugir via embriaguez. E pensando bem são tantas que a teoria da fuga acaba não esclarecendo muita coisa. A cada momento do dia uma atividade diferente serve como fuga de um conjunto de coisas diferentes.

Então por quê?

Uma boa pista parece repousar na percepção de que esta é uma conversa de bêbado em formato de posts de blog.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Série Embriaguez: 03 - Dependência química



Ora, ora. Como seria bom resumir a questão à dependência química. Fiz um teste: resolvi experimentar um mês sóbrio. Daí, como não aconteceu nada, não tive tremedeiras ou coisas assim, então emendei um segundo mês e nada. Enfiei logo seis meses, até a data de meu aniversário. Nada aconteceu. Daí tomei um porre e descartei a hipótese da dependência química.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Série Embriaguez: 02 - Meus cadernos




Quase dez anos de anotações. As embriagadas estão marcadas com um sinal. Não que precisasse, a letra e o traço denunciam.

Nada que preste. Uma coisa é certa: a embriaguez não deixa você mais esperto. Por outro lado, também não muito mais burro: os textos, desenhos e partituras sóbrios também são puro lixo.

Então, por quê?

Não sei a resposta, mas sei de algumas que já descartei há muito tempo. A principal:

"Porque eu gosto." Não. Há uma diferença entre uma resposta válida e uma resposta satisfatória. Imaginemos um sujeito que só se veste de preto. Eu pergunto o motivo e você me responde: "Ah, é uma tradição de três gerações na família dele, até os móveis e utensílios domésticos da casa dele são pretos etc. etc." Peço a prova. Você me leva à casa dele, mostra fotos da família. Ok, tá explicado.

Agora digamos que a resposta fosse "Ah, porque ele gosta muito de roupas pretas". Peço a prova. Você responde "É só observar, ele sempre veste preto". "Sim, mas por qual motivo?" - "Porque ele gosta muito de roupas pretas". Resposta válida, mas insatisfatória. Leva a um loop infinito.

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Série: Embriaguez 01 - Abertura



Tenho ao meu lado três pilhas de cinco cadernos de anotações cada uma. Todas naquele estado, mais ou menos.

E há um guardanapo de papel, daqueles de bar, de 1992, onde está escrito: "Aleatoriedade". Logo abaixo, uma porção de arabescos pretensiosos que fiz para impressionar uma garota que estava comigo à mesa.

Vejamos se é possível fazer um tour que nos traga de volta a este guardanapo.



Série: Embriaguez 00


Vou começar uma série sobre a embriaguez. A minha, que fique claro. Quando o assunto é sério não gosto de falar sobre a humanidade.

O medo é que o texto fique excessivamente público. Mas "E vamos nós", como diziam Os Impossíveis.


domingo, 23 de janeiro de 2011

Jornada


Oito horas dormindo. Duas no trânsito. São dez. Oito no trabalho. São dezoito. Coloca aí duas fazendo as coisas: banho, janta, trocar o fusível. Vinte. Sobram quatro.

Que beleza.


sábado, 22 de janeiro de 2011

Frutas e a questão do Bem e do Mal


Começamos um jogo, meio sem graça, que consiste em listar nomes de frutas:
_Abacaxi.
_Melão.
_Laranja.
_Fruta.
_Não vale.
_Por que não?
_Não existe uma fruta chamada fruta.
_É nome de fruta. É o nome de todas as frutas juntas. Quanto a existir, uma ínfima fração de todas as frutas do mundo é suficiente para matá-lo, se lhe cair na cabeça. É nome e existe.

Em algum ponto da minha juventude li algo em uma apostila sobre erros de categoria. James... Willians? Willian James? Já nem lembro mais. Já vão aí uns vinte anos e eu era pouco mais que um moleque. Não vou entrar numa discussão encardida dessas tão mal armado.

O que ficou gravado é que esta é uma discussão importante. Uma banana existe e pronto. Posso furar o olho de alguém com uma. A categoria "fruta" também existe, mas precisa ser definida. Depende de uma idéia vinda de algum lugar (de um grupo de especialistas, de uma tradição, da lei definida por alguma divindade). Essa idéia é que define, inclusive, quem é que entra ou não entra na categoria.

Um tomate é uma realidade concreta. A categoria "fruta" não é uma realidade óbvia, eterna e auto-explicativa. Ela é dependente.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Eis que



Afastem os móveis. Hienas, abutres, urubus, animais de rapina em geral:

I'm back!





Na verdade, nem era pra volta do blog que eu queria usar esse texto. Era mais pra Amy. Eu torço pro XV de Piracicaba.