quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sem culpa



O que me deixa tranquilo é saber que a civilização não precisa da minha colaboração para continuar seu sagrado trabalho. E quando precisa sabe muito bem como consegui-la.




Cabe uma penteadeira



Minha vida é do tamanho da nossa cela.
Pra lá das grades vejo a rua
onde há pessoas com faixas
"Hooray for our side".

Não querem conquistar nossa opinão, óbvio.
Embora gritem e acenem para nós.

Se revezam muy disciplinadamente
Apesar da desigualdade de tempo disponível.
Não fosse pelos dizeres da faixas dir-se-ia
que são bons companheiros de trabalho.
Mas é isso o que são. Bons companheiros de Teatro.

O último grupo da tarde é o mais ridículo.
Uns sentam-se no meio-fio, calados. Outros agitam símbolos incompreensíveis. Divindades de países distantes. Capas de livros e vinis.

Cantam uma melodia que parece uma canção de ninar.

Em breve anoitece. E aí as serras cantam.

domingo, 5 de junho de 2011

Domingo de manhã



_Frio. Vamos ficar no sol.


Fomos subindo por uma montanha de quinquilharias no quintal até alcançarmos o telhado. Sentamos em uma espécie de parapeito e foi um milagre chegarmos lá sem derrubar as canecas de café. Ficamos em silêncio, ela se encostou no meu peito. Chorou um pouco e acabou dormindo. Via o bairro inteiro dali de cima e tive um profundo ódio da civilização. Tive ganas de arrombar a porta de cada uma daquelas casinhas e ameaçar de morte cada amaldiçoado cidadão que se atrevesse a uma vez mais colocar mágoa no coração daquela moça de cabelos vermelhos dormindo com a caneca ainda cheia nas mãos.