O que é que eu faço diante da imensa preguiça que invadiu minha escrivaninha, minha casa, as ruas nas quais ando todo dia até o trabalho, até o mercado, até o bar, até o cinema.
O que é que eu faço com a imensa preguiça que eu carrego tão facilmente que ninguém percebe que estou com ela em meus ombros. O que eu faço com a preguiça que está sempre comigo mesmo eu fazendo cinco mil coisas por dia, que me rendem elogios e tapinhas nas costas em quantidades dignas de um candidato à vereador?
O que eu faço com a preguiça que não me impede de despachar os idiotas com tato e delicadeza, que não me impede de preencher os formulários, pegar as filas e pagar as contas e sorrir aos balconistas e sorrir aos policiais e sorrir aos padres e aos juízes e aos papagaios e jornalistas e professores, mas que me atrai ao centro do nada com a beleza de algo que não existe?
O que eu faço diante desta imensa preguiça: danço ou durmo?
.