segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Me dar ao luxo
"Isso que você fez foi um luxo. Um verdadeiro luxo que você se permitiu", disse minha amiga em tom de repreensão sobre minha passagem pela universidade.
Contexto: minha amiga é uma moralista caga-regras. E eu comecei uma faculdade pública, larguei no segundo ano, prestei vestibular outra vez em outro curso e demorei oito anos pra me formar. Na visão dela (que não deixa de ter sua lógica) eu estava desperdiçando verba pública e desperdiçando meu tempo de vida bebendo e jogando sinuca quando deveria estar estudando. Disparei um dos meus dardos envenenados e dei o assunto por encerrado.
Mas gostei da história do luxo. Me dar ao luxo. Parece coisa de socialite. Revirando meus rascunhos da época encontrei uma resolução de ano novo que dizia mais ou menos o seguinte:
"Quero pouco peso. Não quero correr atrás dos meus sonhos. Gosto deles, isso basta. Também não preciso de coerência ou hierarquia para escolher e travar minhas batalhas. O curso de desenho que meu sobrinho quer fazer pode ser mais prioritário que o rango do cara que bateu na minha porta. Ou o rango do cara que bateu na minha porta pode ser mais importante que a grana da consulta do médico que vai tratar meu estômago ardendo que nem o inferno. Ou - mais provável - gasto tudo na farra mesmo. Não há ser, objeto ou lugar do mundo sem o qual eu não possa viver. Obviamente, algumas faltas e ausências podem me matar mas até o momento final posso suportá-las se me der na telha. Quero conhecer os quebra-cabeças que herdei de meus antepassados, dar meus pitacos e passar a bola pra frente.
Acho que antes de morrer gostaria de criar algum tipo de arquivo multimídia demonstrando o quanto o samba poderia ser mais divertido se fosse mais popular a técnica de tocar os baixos do violão com dois dedos em vez de só com o polegar."
Rá. Mas que sujeitinho mais cheio de si. Veremos se essa empáfia toda se mantém quando estiver em uma cama de hospital esperando que lhe venham trocar as fraldas.
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Lucidez
Lucidez não tem a ver com percepção da verdade. Ao contrário, tem a ver com perder o pé deste chão que tantas pessoas dizem pisar.
Lucidez tem a ver com empatia. Com o excesso de empatia, para ser mais preciso. Lucidez demais (excesso de excesso) pode levar à morte.
Lucidez é não poder evitar a visão pelos olhos de outros seres. É ter a visão repleta de ruídos provocados pelas imagens geradas pelos sentimentos, pelas ideias, pelas pulsões de outras pessoas, de outros animais, de nuvens, de campos eletromagnéticos, de astros e átomos.
A vida só é possível graças à nossa capacidade de manter a lucidez sob violento controle. Assim podemos nos fiar em nossas impressões e tocar o dia.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Babaquice
É muito difícil não ser um babaca. Eu mesmo às vezes me espanto com o nível altíssimo de babaquice que ando desfilando por aí. Tenho mais vergonha da minha babaquice do que da minha pança de cerveja.
Acho que a única maneira de diminuir a quantidade de babaquice na galáxia é expor as crianças e adolescentes à maior variedade possível de experiências. Não que a monotonia cause a babaquice. A monotonia apenas a mantém.
Diferentes, diferentíssimas experiências. Com comida, com gente e lugares, com exposição ao perigo e imersão no isolamento. Com leituras e drogas. Com construção e destruição.
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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
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